15 março 2006

A PROPÓSITO DA MORTE DE MILOSEVIC

Tinha estado na linda cidade de Belgrado um ano antes da assassina destruição da cidade e do orgulho sérvio. Perdi nos bombardeamentos amigos mortos pelas "bombas" libertadoras. Na altura (Maio de 1999) escrevi o texto que vos deixo sem mais comentários:"Nos últimos quinze anos, observando, com alguma atenção, os acontecimentos jugoslavos verificou-se o desmoronamento da mesma. Pelo final dos anos 80 tornaram-se comuns as imagens de refugiados, batalhas e atrocidades. Tais imagens povoavam os média, embora percebendo-se claramente que as imagens dos sofredores eram frequentemente utilizadas para servir propósitos políticos.
A minha opinião é de que, na crise do Kosovo, a política da NATO se tornou irracional e perigosa, colocando em perigo não apenas os Balcãs mas o mundo.

Parece claro que o dever de qualquer entidade estranha ao mediar um conflito inter-étnico não deveria ser o de tomar o partido por qualquer um deles, mas ao invés tentar ganhar a confiança de ambos comportando-se como um justo e imparcial árbitro. Todavia, a NATO nunca assumiu tal papel nos Balcãs, antes pelo contrário. Os acordos de Paris[1] foram tão pesados para os sérvios que a sua delegação jamais poderia aceitá-los mantendo um mínimo de dignidade e honra.
O objectivo da NATO era levar os albaneses do Kosovo a concordarem como as suas propostas de modo a isolarem os sérvios, provocando a recusa destes. Nesta conformidade, os albaneses, pelo menos de momento, abandonavam o Kosovo, deixando à NATO uma grande oportunidade táctica para iniciar o seu “plano de paz” sem grandes riscos nessa área.
Na sua ambição de criação de uma Grande Albânia, ao ELK interessava que a Sérvia fosse bombardeada. Contudo o Exército de Libertação do Kosovo não constituía um governo nacional mas, ao invés, um exército rebelde de um violento movimento separatista. E se a intenção da NATO é bombardear as instalações militares Jugoslavas, porque não fazer o mesmo às instalações do ELK, igualmente uma força armada responsável pela morte de inocentes? De facto, é altamente improvável que tal aconteça, posto que, nos últimos dez anos, quer individual quer colectivamente, os países ocidentais fizeram o possível para desestabilizar e desintegrar a Jugoslávia.
A Jugoslávia é um estado soberano. Os seus governantes e dirigentes têm todo o direito, ao abrigo das leis internacionais, de se defenderem de qualquer ataque. Ao tornar-se um agressor internacional e ao colocar-se abertamente ao lado de uma força rebelde, a NATO, contraria as leis internacionais que diz defender, não se encontrando sequer mandatada pelas Nações Unidas para agir como uma força policial internacional.
No passado recente europeu, nenhum país foi atacado do exterior desde a tristemente famosa invasão Soviética à Tchecoslováquia em 1968, e antes disso, a invasão soviética à Hungria em 1956. São indubitavelmente perigosos antecedentes…"



[1] O denominado acordo de Rambouillet de 23 de Fevereiro de 1999.

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