13 outubro 2006

AINDA A RECENTE VAGA DE IBERISMO

Excertos de dois textos que merecem a devida reflexão.

Não há nacionalismos ameaçados nem nenhuma epidemia de Miguéis de Vasconcelos. Há descontentamentos. (...)
Os Portugueses nunca foram, nem são agora, iberistas. São grandes apreciadores do sabor da liberdade. São ciosos da sua história e da sua cultura e língua. Prezam demais a sua independência política. E procuram há séculos a sua independência económica. Que não é Madrid que ameaça. São os nossos empresários. Daí que qualquer sugestão de uma ligação política ibérica seja tão descabida como o receio da mesma.
Os restos mortais do iberismo resultam de um desconhecimento da realidade europeia, da realidade nacional e, muito especialmente da realidade dita 'espanhola'.
A Espanha é uma manta de retalhos de povos com línguas, culturas e sensibilidades muito diferentes que há longos anos lutam contra o centralismo de Madrid. Que tudo fazem para ver reconhecida a sua autonomia e a têm vindo a conseguir a pouco e pouco.
E nos invejam.
A questão, em Portugal, é outra. É de desencanto. É que os Portugueses estão fartos de ver a 'nossa' Galp a vender combustíveis mais baratos a espanhóis do que a portugueses. A pagar os carros mais caros do Mundo. Estão fartos de que Campos, impunemente, mande as mulheres Portuguesas ter os seu filhos em Espanha. Estão fartos de ver a economia dos nossos vizinhos a crescer e a nossa a não passar da cepa torta. Estão fartos de ver os empresários nacionais e seus doutorais porta-vozes a fazer lindos discursos e a pedir cada vez mais (para si próprios) e nada fazer pela economia real. Fartos. E com a exaustão vêem as miragens.
João Marques dos Santos, "Correio da Manhã", 29.09.2006

Curioso é constatar que esta apetência hispânica emerge num momento em que a tensão nacionalista coloca em crise a unidade do próprio Estado espanhol. O Estatuto da Catalunha e o terramoto que a sua aprovação provocou na tessitura autonómica da Espanha, com as réplicas sentidas nas Vascongadas e na Galiza, pressagiam um futuro complexo.
Eis o nosso sentido da oportunidade histórica. Quando os outros querem fugir, entendemos er o momento de entrar. Depois, perdidos e crescentemente desamparados, buscamos outro destino. Já foi o mar e a terra. O que nos resta? O ar?
Zé de Bragança, "Notícias Magazine", 01.10.2006