30 maio 2007

MORAR NO "DESERTO", A GREVE OU TROTSKI RENASCIDO...

Hesitei sobre qual o título a dar a este postal. Optei, assim, por colocar os três, deixando à vossa escolha aquele que mais vos aprouver.
Como sabem, como disciplinado tuaregue, vivo no deserto (Lino dixit) e como milhões de portugueses que trabalham, dependo dos transportes públicos, no caso vertente dos cruzeiros da Transtejo (pois o restante percuro faço-o a pé), para cruzar a extensão de água que bordeja o deserto e chegar ao meu local de trabalho.
Adivinhava-se um dia em cheio, pois. Todavia a Transtejo havia assegurado serviços mínimos e zelosa e atempadamente os afixara. Dirigi-me, assim, ao entreposto no limiar do deserto onde se apanham tais barcos para cruzar o Tejo e rumar a Lisboa.
Permitam-me, porém, um breve parêntesis, para vos esclarecer sobre o assunto do dia: a greve. O conceito teórico da greve (intrinsecamente destrutivo) não me é grato, não sou pois um grevista militante. Tal não significa que não reconheça aos Portugueses o direito de se manifestarem contra este (des)governo verdadeiramente opressor que os vem conduzindo a um crescente autoritarismo e pauperização. Adiante.
Na estação fluvial constatei que os ditos serviços mínimos não estavam afinal a ser cumpridos. As pessoas acumulavam-se e, justamente, indignavam-se pelo logro em que havíamos sido induzidos. As opções de ida por transporte para Lisboa eram nulas. O transito automóvel caótico. Algo todavia não era normal, quase todos os funcionários de terra estavam no seu local de trabalho e entre a multidão se relatava que pelo menos um dos mestres de embarcação ao pretender por o seu barco a navegar fora impedido (no Porto Brandão) por um piquete de greve. Era um velho e conhecido método trotsquista de garantir uma plena adesão à greve e, sobretudo, de tramar a vida de quem trabalha porque, deixemo-nos de fantasias, greve é um direito de funcionário público, não de privado…
Liguei para GNR informando-os do sucedido e lembrando que se o direito à greve é uma realidade não é menos o de querer trabalhar durante a mesma... De nada me valeu ou, pelo menos, os barcos não apareceram. Regressei a casa e vi-me forçado a usar o carro para passar a ponte, o que só me atrevi a fazer já perto do meio dia.
Resultado da greve geral: tive que pagar a extorsionária portagem na ponte, sujeitar-me ao transito, gastar gasóleo e para compensar a manhã perdida ficar a fazer serão no trabalho...
Ora digam lá se não é fantástico este dia de greve?

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