28 junho 2007

UM ASSASSINATO QUE MUDOU A HISTÓRIA

Lembrando o dia de hoje, aqui vos deixo um excerto de um trabalho que ando a preparar para publicação.


Em 1913 o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono Austro-Húngaro, era nomeado Inspector-Geral do Exército. Foi nessa condição que, no Verão de 1914, a convite do general Oskar Potiorek, governador da província da Bósnia-Herzegovina, aí se deslocou para assistir às manobras.

Homem destemido e grato entre as suas tropas, embora consciente da perigosidade[1] da deslocação o arquiduque decidiu empreendê-la. Na realidade, o maior perigo para a monarquia advinha então, num estado pluri-nacional, do Pan-Eslavismo disseminado a partir da Sérvia e fortemente encorajado pela “mãe” Rússia entre os eslavos do sul.

Consciente de tão complexa realidade, o arquiduque Francisco Fernando, procurava construir um plano para transformar a Croácia no núcleo de um sólido parceiro eslavo no sul para a sua monarquia. Tal plano contrariaria os planos e teses pan-eslavistas e o líder da “Mão Negra”, coronel Dragutin Dimitrijevic (chefe dos serviços de informação do Estado-Maior Sérvio), considerava Francisco Fernando e os seus planos para os eslavos do sul, contrários aos seus desejos unionistas com a Sérvia. Assim, ao saber do propósito do arquiduque em visitar a Bósnia de imediato começou a congeminar os planos para o seu assassinato, com base num comando sedeado em Belgrado.

Um outro membro da “Mão Negra” o major Voja Tankosic informava o primeiro-ministro da Sérvia, Pasic, desse plano. Cauteloso, Pasic, embora apoiasse os objectivos do grupo não desejava tal assassinato, pois estava certo que o mesmo conduziria a uma guerra com a Áustria-Hungria, e como as suas ordens de detenção dos membros do comando (Gavrilo Princip, Nedjelko Cabrinovic e Trifko Grabez) não foram acatadas estes lograram chegar à Bósnia-Herzegovina para levar a cabo o seu plano.

No Domingo, dia 28 de Junho de 1914, o Inspector-Geral e sua mulher duquesa Sofia chegavam antes das 10 horas da manhã à estação central de Sarajevo, onde eram esperados pelo general Potiorek. Iniciando-se a comitiva, composta por vários carros, seguindo o arquiduque, acompanhado pela sua mulher, pelo general Potiorek e pelo conde Von Harrach no segundo carro, de capota recolhida para que fosse, como expressamente desejava, bem visível pela população.


IMAGEM: Aquiduque Francisco Fernando e sua mulher duquesa Sofia em Sarajevo no dia do seu assassinato (28 de Junho de 1914)


Pouco depois das 10 horas e quando a comitiva passava pela Central de Polícia uma granada de mão era lançada. Devido ao sangue frio do condutor, que acelerou, aquela apenas explodiu debaixo das rodas do carro seguinte, ferindo com gravidade dois dos seus ocupantes (Eric von Merizzi e o conde Boos-Waldeck) e uma dúzia de espectadores, não sendo possível atingir o carro em que seguia o arquiduque, que seguiu, como planeado, para a recepção oficial na Câmara Municipal.

Após a recepção oficial o arquiduque, ao ser informado do grave estado dos seus acompanhantes, insistiu em ir vê-los ao hospital e, não obstante, as insistências contrárias do barão Morsey, que sugeria que tal poderia ser perigoso, nada demoveu Francisco Fernando, respaldado, além do mais, pela indignação do general Potiorek que clamava a Morsey: “Pensa que Sarajevo está repleta de assassinos?”. Mesmo assim, o general, responsável pela segurança achava que a duquesa não deveria acompanhar o marido, o que esta recusou, e estabeleceu um percurso alternativo, facto que, porém, se esqueceu de apontar ao condutor, seguindo este pelo caminho habitual onde um dos conspiradores, Gavrilo Princip, teve oportunidade de disparar várias vezes, atingindo o arquiduque no pescoço e a duquesa no abdómen. Estava consumado o plano da “Mão Negra” e este assassinato de Sarajevo deitaria por terra toda a ténue esperança de uma evolução pacífica, precipitando o advento da 1ª Guerra Mundial.

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[1] De facto, muitos habitantes locais descontentes com a dominação Austro-Húngara preferiam a união com a Sérvia. Em 1910 um sérvio, Bogdan Zerajic (membro da sociedade secreta “Mão Negra” – Unificação ou Morte), tentara o assassinato do governador Austro-Húngaro da Bósnia-Herzegovina, general Varesanin, quando da abertura do parlamento em Sarajevo.

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