23 julho 2007

ADENDA AO POSTAL DE ONTEM

O Dr. Manuel Brás, que foi em tempos da presidência do Dr. António Cruz Rodrigues militante do PNR e que em conjunto levam por diante o projecto "blogosférico" Aliança Nacional que recentemente celebrou o quarto aniversário que se sauda, pessoa a quem no plano pessoal só devo considerações e atenções mudou há tempos a sua miliância para a Nova Democracia sendo mesmo, colaborador destacado no "Demo Liberal", jornal daquele partido.
Escreveu recentemente no mesmo um interessante artigo denominado Porque falha a direita?, onde começa por escrever, e bem (aliás conforme sempre vimos defendendo que a dicotomia esquerda/direita é imposta por outros), que "a direita político-partidária, criada pela esquerda, à sua imagem, não tem entidade própria, nem um pensamento estruturado assente numa visão do homem, do mundo e da vida". Não é segredo para ninguém qua a agenda política na Europa está, de há muitos anos, programada e formatada por concepções de "esquerda" que assim vêm impondo os seus cânones, utilizando e agitando a "direita" por antinomismo às suas ideias, servindo, assim os seus intentos e propósitos.
Considera Manuel Brás que são três os eixos fundamentais do combate da sua direita:
1. O realismo da condição humana.
2. O combate às utopias e ao estatalismo na sociedade.
3. Combate civilizacional pelo futuro do Ocidente.
Temendo apenas o excesso de "liberalismo" (bandeira sempre agitada pelo PND) que encerra a primeira e segunda das suas permissas, poderia concordar, no essencial com o plano.
Há muito, na realidade, que as teses de Rousseau, tão gratas à esquerda, foram abandonadas, embora não queiramos que o Estado se demita, contrariamente ao Manuel Brás, se demita das suas funções porque, cremos sempre, que o homem, não o homem concreto defendido no seu eventula egoismo, pode melhorar e aí o Estado terá sempre um papel importante a desempenhar.
Na enunciação, embora com teorização interessante sobre a anterioridade da Nação ao Estado (por acaso em Portugal andarão muito próximas, senão juntas), da segunda permissa o que professa Manuel Brás é, na melhor linha liberal, um Estado meramente subsidiário onde todos os desmandos de capitalistas mais ou menos habilidosos serão impossíveis de controlar, punir ou sequer controlar. Esse é o preço do "liberalismo" com o qual jamais poderemos estar de acordo.
A terceira permissa, aquela em que, em teoria, mais afastados poderíamos estar de Manuel Brás, é, curiosamente a que traduz mais coincidências. Negando que as prioridades do Ocidente, definidas pelas esquerda, sejam o Tratado-Constituição ou as alterações climáticas, escreve Manuel Brás: "Os grandes desafios para a Europa são, isso sim, o seu declínio demográfico – existirá algum plano oculto para a extinção dos povos europeus? –, habilmente conduzido há décadas, as ameaças do terrorismo e os fluxos migratórios descontrolados. Porém, o maior desafio de todos é a crise de identidade europeia: a Europa é o que os seus fundamentos culturais e históricos determinam, e não aquilo que os políticos de um momento gostariam que fosse. Fazem falta líderes políticos que não tenham medo de fazer a Europa reencontrar-se consigo própria". É justamente esta batalha que sem tibieza vem sendo travada pelo PNR e não pelo PND. Mas como o Manuel bem sabe, da enunciação desta ideia geral - identidade europeia -, à sua tradução prática, no concreto, há um mundo de opiniões. Não, naturalmente, impossíveis de debater mas seguramente a carecer de muita discussão e amplo debate, só possível se não nos encerrarmos em "capelas" e aguardarmos messianicamente o surgimento de um partido de "direita", não de "pronto-a-vestir" mas de alfaiate, à medida...
Assim, será naturalemnete discutível se é ou não à "volta destas linhas mestras que a Direita se deverá unir, ver o que tem em comum e aquilo por que está disposta a travar um combate doutrinário, político e civilizacional". É, pois, como diz e bem "inevitável a batalha das ideias" que só será possível se, contrariamente ao que a agenda da esquerda gosta de impor, não excluirmos desse caldo de discussão aqueles que nele, de boa fé e de diferentes tendências, pretendem participar. Mais uma vez, nem sempre o alfaiate pode triunfar se pretendermos ir a qualquer lado, ao tal combate, à tal difusão de ideias.
À tal batalha das ideias, bem sabe o Manuel, jamais me furtei (nem me creio vir a furtar), sempre de peito feito e cabeça aberta, todos ouvindo e a todos atribuindo o mesmo valor, decência e importância. E só assim, só por aí, meu caro Manuel poderemos e deveremos ir.
Quanto às incompreensões, perseguições, insultos, com que a esquerda habitualmente nos mimoseia a elas estamos habituados desde há muito, são apenas sinal, como diz e bem, de que estamos no bom caminho. A coragem e a determinação jamais nos faltará, conquanto não sejamos autofágicos.
Em boa verdade, caro Manuel, não temos nada a perder.

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