14 julho 2007

A CAMINHO DO DECLÍNIO?

Temo bem que com as revelações contidas no volume das suas memórias, ontem publicadas com o "Sol", o Professor José Hermano Saraiva passe a integrar alguma lista de proscritos, sem falar na hipótese de lhe retirarem a sua importante participação televisiva.
Homem corajoso, vertical e sempre verdadeiro revela o Professor Saraiva (vol. 6ª década, anos 70, I parte, p.17) uma conversa com o Professor Leite Pinto: "Fala, a propósito, na operação de salvamento dos refugiados republicanos espanhóis e dos judeus que, no início da Segunda Guerra Mundial, se acumulavam na fronteira de Irun, na ânsia de salvar as vidas. Vieram embarcados nos vagões da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, que iam até Irun carregados de volfrâmio, e voltavam a Vilar Formoso carregados de fugitivos. A operação foi mantida rigorosamente secreta porque as autoridades espanholas não consentiriam. Segundo um protocolo firmado pelas autoridades ferroviárias dos dois países, os vagões deviam circular selados, quer à ida quer à vinda. Um dos que assim salvaram a vida foi o Barão de Rotschild. O embaixador Teixeira de Sampaio confirmou-me, mais tarde, esses factos. O salvamento de 30.000 refugiados deuse ao mesmo tempo que o cônsul de Portugal em Bordéus, em cumplicidade com dois funcionários da Pide, falsificava algumas centenas de vistos, que vendia por bom preço a emigrantes com dinheiro. Um dos que utilizaram esta via supôs que todos os outros vieram do mesmo modo - e assim nasceu a versão, hoje oficialmente consagrada, de que a operação de salvamento se deve ao cônsul de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Este, homem muito afecto ao Estado Novo, nem sequer foi demitido, mas sim colocado na situação de aguardar aposentação. Os seus cúmplices da Pide foram julgados, condenados e demitidos".
Das duas uma. Ou estas memórias passam despercebidas ou está tramado o "novel revisionista", Prof. Saraiva.
A verdade é que as vozes contrárias à "versão hoje oficialmente consagrada" não param...

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5 Comments:

Blogger Flávio Gonçalves said...

Raios e coriscos (citando um capitão que eu cá sei, amigo dum recém proscrito na velha Albion), agora pesa-me a consciência por não estar a comprar as memórias do velho Mestre.

sábado, 14 julho, 2007  
Blogger nonas said...

A idade não perdoa!
Um caso clínico de incontinência verbal.

sábado, 14 julho, 2007  
Blogger Pedro Botelho said...

Põe-se a questão de saber se os pides agora também vão ter árvores no Yad Vashem. Ou talvez se fique por uma placa cabalística ao «Arispides»...

segunda-feira, 16 julho, 2007  
Blogger Diogo said...

O Barão de Rotschild, da família dos que puxavam todos os cordelinhos, salvou a vida num comboio apinhado?

quinta-feira, 17 maio, 2012  
Blogger Fada do bosque said...

Boa pergunta Diogo.
Realmente é muito estranho... :))

domingo, 11 novembro, 2012  

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