27 novembro 2007

SAUDADES DA PIDE...

O título deste postal é obviamente uma figura de estilo, um eufemismo. Desde logo porque quando foi o 25A tinha apenas treze anos e retenho memórias pouco consistentes dos tempos de então. Embora nado e criado numa família politizada e onde alguns assuntos, veladamente, se falavam, muitos me eram, pois, já familiares. Os treze anos de então eram também, como bem sabem, muito diferentes dos mesmos na juventude de hoje (mas isso são contas de outro rosário... ou talvez não?). Adiante.
Vivemos hoje tempos de verdadeira ditadura, como cada vez mais, mesmo os "apolíticos" se apercebem. As polícias multiplicam-se e sucedem-se, às criminais, as de informação e a estas as de costumes e por fim a dos grandes zelotas do "politicamentecorretês", que se vai arvorando como ídolo dos pés de barro dos nossos dias.
A ASAE, numa fúria de normalização e padronização, até a ginginha do Rossio fechou (felizmente que desde há uns anos deixei de beber, caso contrário estaria lá à porta em greve da fome... ou talvez da sede...), e em breve seremos conduzidos a uma espécie de forçada liofilização alimentar que nos privará de sabores, eles próprios divergentes com os padrões estabelecidos e pré-determinados para uma carneirada, cada vez mais destituída de livre-arbítrio. Onde está essa tal democracia por que se batiam para nos livrar da opressão e pensamento único?
Creio bem, do que me lembra de ouvir ao meu pai e avó (ambos oposicionistas mas bem arrependidos no pós 25A), que o grau de vigilância actual é bem superior. Andamos vigiados, e mais que isso verdadeiramente condicionados, como nunca. Deixámos de ser livres, ponto final. Nas mais elementares actividades, ou mesmo piadas, somos seguidos por mil olhos e ouvidos à espera de um deslize, um desleixo que nos conduza ao novo index "politicamentecorretês" do homem autómato, repetidor disciplinado de padões que alguém, não importa aprofundar muito quem, definiu como "normais". Mas, por oposição, cada vez mais a normalidade é anormal e o anormal penalizado. Coisas...
Impedidos no quotidiano da mais elementar possibilidade de contar piadas sobre pretos ou indianos, judeus ou muçulmanos, gays (de ambos Matizes) entre uma vasta pleíade de intocáveis.
Assistimos esta semana a uma cerveja ser acusada de homofobia, dos seus consumidores serem acusados de cumplicidade, por terem defendido o "orgulho hetero". Mas quem é esta gente de todos orgulhos: os gay, os negros, etc... que negam o orgulho aos que com estes do "politicamentecorretês" colidem?
Reacções histéricas habituais e absolutamente despropositadas das "vítimas" de serviço. Os vigilantes (tão criticados em casos de criminalidade) aí estão, atentos, quais lobos famintos, à espera do manjar incauto. A polícia dos costumes, da língua, dos conceitos aí está... bem mais activa e eficaz que a PIDE...

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3 Comments:

Blogger A Vilhena said...

Ainda se lembram de quando, muito preocupada com o nosso bem estar e a nossa boa forma física, a Dinamarca propôs a pasteurização das massas queijeiras?
E houve quem embandeirasse em arco... santa ingenuidade!!!

quarta-feira, 28 novembro, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não sei muito da PIDE é verdade, no entanto penso que ainda hoje se justificava algo semelhante.

quarta-feira, 28 novembro, 2007  
Blogger Unknown said...

Sou do tempo do regime do Estado Novo, suas monobras fascistas, da PIDE, e da guerra colonial...cumpri o serviço militar em Angola, que desde do primeiro dia achei que era errado combater por uma injusta causa.
Hoje quem diz que tei saudades do regime dos ditadores, tem a liberdade de o dizer, de escrever, comentar etc!
Coisas que outrora não o podia fazer. Sim é verdade o nosso Portugal não é como eu, e muitos outros portugueses gostariam. Mas felizmente que hoje o povo pode votar, o que eu nunca o fiz em Portugal . Só tive esse direito cívico ao viver no país onde estou há 50 anos.

sexta-feira, 18 julho, 2014  

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