15 janeiro 2008

"EPPUR SI MUOVE!"

Reza a lenda que foram as palavras que servem de título a este postal as proferidas por Galileu Galilei (nascido em Pisa em 15 de Fevereiro de 1564 e falecido em Florença em 8 de Janeiro de 1642), notável físico, matemático, astrónomo e fiósofo que como se sabe desempenhou um papel predominante naquilo que se convencionou denominar como "revolução científica".
Foi em 16161 que, pela primeira vez, o Tribunal do Santo Ofício se pronunciou sobre os trabalhos de Galileu declarando, conforme à doutrina estabelecida, que era herética a afirmação de que seria o sol o centro imóvel do universo, outrossim se afirmava que era "teologicamente" errada a tese de que a terra se movia.
É certo que então, ainda nenhuma das obras de Galileu integrava o Index - Index librorum prohibitorum, o famoso índice de livros proibidos - opróbio desses tempos em que uma nefasta igreja afastava os homens da luz e da liberdade científica..., mas mesmo assim fora chamado a Roma. E perante o Tribunal do Santo Ofício presidido por Roberto Bellarmino teve o ensejo de se defender. Como "teologicamente" esperado, e demonstrado, o Tribunal concluiu que não existiam provas suficientes sobre a mobilidade da terra e Galileu foi publicamente criticado e instado a abandonar a sua heliocêntrica heresia. Porém, crente na verdade e munido pela certeza das suas teses persistiu na "heresia" passando-se, da simples admoestação imposta a proibição de divulgação das mesmas.
Todavia, a eleição, em 1623, de um seu amigo e admirador das ciências para o trono pontifício veio assegurar-lhe durante certo tempo aquilo a que hoje chamam de "janela de liberdade". Urbano VIII revelava-se, na realidade, um espírito mais aberto à ciência. Foi nesta circunstância, e após curiosas e interessantes vicissitudes que não retomarei agora aqui, que escreveu o seu Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano, publicada em 1632 e conhecida entre nós como Diálogo sobre os dois grandes sistemas do universo, curiosa e interessante obra em forma de diálogo onde o autor faz intervir três personagens: Salviati (o paladino do heliocentrismo), Simplício (defensor do geocentrismo e de certo modo pouco astuto) e Sagredo (que, por manifesto receio, assume a neutralidade na questão mas que acaba por concordar com Salviati). E foi esta obra o ignidor da condenação de Galileu.
Apesar de idoso e doente o papa não perdoou Galileu que foi chamado a Roma para ser julgado. Um pouco dignificante, pouco isento mas bastante "teológico", quanto extenso, julgamento iniciava-se. A conclusão do mesmo, a esperada mesmo antes do seu começo (sim, ele há "julgamentos" assim...), Gaileu era obrigado a abjurar as suas ideias, a conhecer os benefícios da estadia prisional durante tempo indefinido e a ver as suas obras incluídas no Index.
O infâme julgamento e subsequente prisão de Galileu tornou-se, talvez, no mais emblemático exemplo da luta entre uma visão escolástico-dogmática da ciência e a moderna concepção de ciência; entre os apriorismos aceites por força de dogma (lei ou tribunal) e a investigação e/ou experimentação.
Reza a tradição que, contudo, ao sair do tribunal após sua condenação e público vexame, tenha proferido o célebre: "Eppur si muove!", ou traduzindo, "contudo, ela [terra] move-se". Manda a verdade dizer que Galileu conseguiu comutar a pena de prisão a confinamento na sua própria casa de campo em Arcetri, mas o anátema que os poderes dominantes sobre ele lançaram perdurariam por muitos mais anos e em conclusão, Galileu foi condenado e a doutrina da igreja permaneceu por muito tempo fiel ao seu geocentrismo e às suas "certezas teológicas".
Não sei porque hoje me lembrei disto, nem verdadeiramente porque aqui coloquei imagens de Ernst Zündel, Robert Faurisson e Sylvia Stolz, que nada tem a ver com inquisição, perseguição, dogmas e condenações.

Etiquetas: , , , , , ,