01 março 2013

PARA COMEÇAR O MÊS DDE MARÇO: O CORO DOS ESCRAVOS

O "Coro dos Escravos" da notável opera de Verdi, Nabuco, é um dos mais emocionantes trechos da História da Música e, indiscutivelmente, um grito de paixão pela liberdade.
Há dois anos, em 12 de Março de 2011, a Itália celebrava os seus 150 anos e na ocasião a Ópera de Roma apresentou a obra que, tradicionalmente, simbolizou a luta pela unificação do país, estabelecendo um paralelo entre a situação de escravatura dos judeus na Babilónia e a dos italianos então subjugados pelo império dos Habsburgos.
O primeiro-ministro de então, Sylvio Berlusconi, assistia à apresentação, dirigida pelo maestro Riccardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno (um ex-ministro do governo Berlusconi), discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, politizando o evento elançando o grito: "longa vida à Itália!".
Após o que o Maestro Riccardo Mutti proferiu estas palavras:
"Sim, longa vida à Itália mas... [aplausos]. Já não tenho 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquiesço ao vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o coro que cantava "Oh meu país, belo e perdido", eu pensava que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual assenta a história da Itália. Neste caso, nós, a nossa pátria, será verdadeiramente "bela e perdida". [aplausos retumbantes, inclusive dos artistas da peça] Reina aqui um "clima italiano"; e eu, Mutti, calei-me por longos anos.
Gostaria agora...nós deveriamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, o teatro da capital, e com um côro que cantou magnificamente e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos."
Assim Mutti convidou o público a cantar o "Coro dos Escravos" e toda a Ópera de Roma se levantou, inclusivé o coro. No final, a emoção dos artistas exprime-se em lágrimas.
Foi um momento magnífico na ópera e num civilizado - e eficaz - protesto político cada vez mais preciso em cada uma das pátrias e contra políticas economicistas que espezinham a cultura!



Um agradecimento ao velho amigo Gonçalo Couceiro Feio pela informação.

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